sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Publicar era apenas um ato de coragem

em um daqueles dias de desespero, quando as editoras me deram a graça do desprezo, e já haviam ultrapassado todos os prazos estabelecidos por elas mesmas, me veio a ideia de procurar uma editora em Portugal. A mesma língua, menos dificuldades. Então, encontrei o site da minha editora, que se autoafirmava a maior editora de Portugal, com maior número de publicações.
Surpresa mesmo foi quando, ao clicar no link de "envio de originais", o prazo que a editora dava para uma resposta era de, no máximo, 10 dias. 10 dias! E o melhor, não exigia uma cópia impressa via transportadora (sdds Fedex). Não pensei duas vezes. Enviei meu original e aguardei.
Como já olhava meu e-mail todo santo e dedicado dia, de todos eles, o dia mais feliz da minha vida foi aquele, quando recebi a resposta da editora, dizendo: Queremos publicar o seu livro.

Minhas bochechas coraram, meu coração acelerou e tudo mais que havia sobre a publicação pareceu irrelevante. Eu me comprometeria a comprar uma quantidade de livros e a editora o publicaria no Brasil e Portugal. Eu pagaria! O que fosse! Uma editora me queria, me daria um espaço, uma oportunidade. E aquilo não tinha preço! Foi quando contei a todos que havia escrito um livro. É orgulho mesmo, mas não quis contar até saber que aquelas palavras poderiam mesmo ser um livro; e, pra isso, eu precisaria do aval de alguma editora.

À época, a editora não possuía filial no Brasil e isso tornava as coisas mais arriscadas. Procurei pela ajuda de amigos portugueses e pessoas que já haviam publicado com a editora, para saber se a mesma era confiável. A resposta de um amigo foi: procurei saber, e disseram que não é muito conceituada, pois publicam quase tudo o que mandam. Mas existem, têm uma livraria em Lisboa.

"Publicam quase tudo o que mandam", aquilo feriu um pouco o meu orgulho. Mas quem eu era para poder escolher? Ninguém! Eu não era ninguém, por isto precisaria de uma editora que me desse um primeiro espaço; para me tornar alguém.
Como teria que pagar pela publicação (e mandar o dinheiro pra fora do país), hesitei e insisti na autopublicação.

Alguns meses depois, entrei em contato com a editora, novamente; e, para minha felicidade, uma moça brasileira me atendeu e me informou que a editora estava por abrir um escritório em São Paulo. Mandei meu original uma outra vez, e ela respondeu com uma nova proposta, mais razoável, e complementou com um comentário sobre o livro: onde posso encontrar um Heitor desses?

Com aquele comentário, eu pude acreditar que havia dado vida a meus personagens, que eles haviam gerado empatia em alguém. Naquele dia, eu me tornei escritora. Publicar era apenas um ato de coragem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário