quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Publicar é um ato de coragem

"Você tem muita coragem para tentar publicar as coisas que escreve", disse uma amiga. Hoje, refletindo sobre coragem e sobre publicar, posso afirmar, categoricamente: é necessário coragem para publicar.
Naquele dia, eu havia descoberto um projeto de bolsas para criação literária do Ministério da Cultura e, sabendo que essa tal amiga também gostava de escrever, sugeri que ela também se inscrevesse. Então, ela respondeu a citação acima e ainda complementou: "eu não tenho coragem de mostrar as coisas que escrevo a ninguém". Naquele momento, sonhar publicar meu livro não parecia um ato de coragem; ainda mais para uma típica aspirante a escritora, tímida, que tem medo de iniciar conversas com os outros. Publicar meu livro tampouco era um ato de vaidade, mas de necessidade. Aquela mesma necessidade inexplicável, que os pais sentem de mostrar fotos de seus filhos saudáveis e apontar seus nomes. Uma necessidade que beira o orgulho, a necessidade de aprovação, mas supera-se pelo amor da criação. Eu sentia que havia feito um bom trabalho e desejava dividir com os outros. Não por mim, mas minha criação merecia ser dividida, apontada, ter suas qualidades exaltadas, como um bom filho.

Minha amiga tinha razão. Publicar é um ato de coragem. Tornar algo público implica submeter-se não somente à autocrítica, mas, também, à crítica externa; expor o que há de mais íntimo e entregar ao gosto do outro. E o pior de tudo é que, uma vez impresso, não mais existe um botão com a opção "editar". E você pode se odiar por isso.

Mas não vamos colocar o epílogo na frente do prólogo; antes da história virar papel, ainda tem uma saga de heróis míticos a tratar, cujos deuses presentearam com o poder da perseverança. Aquela mensagem divina de "não desista, você precisa fazer isso", que te irrita quando você acha que já esgotou todas as suas possibilidades e prosseguir só vai te fazer sofrer. Mas os deuses sabem o que fazem e não fosse por sua perseverança, você sequer teria sonhado, um dia, em ser um escritor.

Sonhar em ser escritor. Viver de escrever é considerado sonho; e não plano. Algumas pessoas planejam ir para a faculdade, fazer um mochilão na Austrália, casar-se e ter filhos; mas escrever parece tão sonho quanto querer ver um festival internacional de música tradicional tibetana na Cidade do Rock: não é impossível, mas, para isso, você depende da mobilização de vários outros interessados no gênero, patrocínio, apoio, estrutura e, então, se você mora no interior do estado, dinheiro pra pagar sua passagem e a entrada cara para o evento. Ou seja, tão difícil, que os fãs de música tradicional tibetana continuam a ouvi-la em seus fones de ouvido e fingir que não se importam.

Em uma época em que sonhar já é um ato de coragem e em um país em que fazer planos é esbarrar na Senhora Burocracia, sonhar e fazer planos confundem-se enquanto você dorme, coloca a mão na massa, ou pede por ajuda para alcançar seu objetivo.

Nas horas de dificuldade, eu preferia ter sonhado me formar em Engenharia.

Nos próximos posts, pretendo detalhar as dificuldades, burocracias e perseveranças que transformam em bipolar qualquer jovem brasileiro a quem prometem realizar seu grande sonho. Só que não. Sério, vamos te ajudar. Brincadeira.

Para acompanhar a trama, leiam as postagens na sequência cronológica e sejam bipolares junto a mim!

Com amor,

Ania.

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