quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

É preciso ter humildade

Como fui injusta! Culpei nosso país pelos meus problemas e estava ele, ali, me estendendo as mãos!

Era o último dia de inscrição, quando cliquei no link do Ministério da Cultura, que oferecia bolsas de Produção Literária.

Você deveria criar uma conta numa plataforma do governo, se cadastrar (mais uma vez, o "quem é você mesmo?" antecedia qualquer requisito para o envio), explicar sobre o que se tratava o seu, então tratado como, projeto-livro e que relevâncias ele tinha a contribuir com a cultura brasileira. Parecia do destino. O último dia de inscrição era meu, para mandar um projeto que tratava da História do Brasil, da escravidão, da economia de café e as sociedades patriarcais do século XIX. Bastava uma linha para explicar a relevância do meu projeto-livro para a cultura brasileira, mas eu me estendi; desenvolvi cada tópico para parecer clara, mas de forma concisa. Anexei meu original ao Sistema e aguardei. Meu país estava me dando a oportunidade de pagar pela minha publicação, era meu último recurso.

O tempo passava, as editoras ainda não haviam se manifestado e, juntamente à minha saga de checar minha caixa de e-mail todos os dias, havia um sistema pra eu acessar à espera de resposta. Demorou, mas saiu.

Pela n-ésima vez, desde então, eu fui reprovada. Mas, desta vez, estava muito bem explicado o quesito no qual eu falhei: não soube explicar, de acordo com o Sistema, sobre o que se tratava meu próprio livro.

É natural que eu fique procurando justificativas para fracassar. Teorias de conspiração, a culpa é do Governo; ou eu poderia, simplesmente, assumir minha culpa e admitir que, talvez, eu não seja tão boa quanto eu pensava. É preciso ter humildade.
O problema é que no nosso país, a gente não pode confiar no próprio fracasso, pois tem muita coisa envolvida nele. Enquanto eu dependia da misericórdia dos outros para realizar meus sonhos, era obrigada a ouvir, diariamente, aquele firme discurso meritocrático de que a gente chega aonde quiser com competência, determinação e perseverança. De que as coisas dependem apenas disso. Neste tempo de mais de uma ano da minha vida, que dediquei à publicação do meu livro, após esgotar todas as possibilidades que eu tinha de fazê-lo, deixei de aceitar ouvir esse discurso, que é uma mentira, no mínimo, cruel. Fico pensando se as coisas teriam sido diferentes se eu tivesse dinheiro, ou fosse filha de pessoas influentes, ou se, como nos concursos públicos brasileiros, aquela vaga para Bolsas de Fomento à Literatura já não tinha dono. De qualquer forma, meras especulações não me ajudaram a publicar meu livro.

É certo que a gente tem que ter humildade, mas hoje eu tenho um pouco mais de autoconfiança. Ter publicado um livro não faz de mim uma escritora, mas é possível que eu não seja tão ruim quanto esse ramo me fez sentir esse tempo todo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário