quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Eu pago, mas não a você.

Enquanto as três primeiras editoras nem mesmo me davam a honra da recusa, eu vivia entre o "não quero mais publicar essa m*#$@" e "ainda não fui recusada, ainda há esperança". Essa é a pior das partes: você não é assumidamente ruim pra desistir, pois ninguém se comprometeu em dizer isso, mas alimentar esse sonho acaba te matando de fome.
Então eu desisti. Mais ou menos. Peguei meu original impresso, juntamente ao cadastro da BN e aos comprovantes de envio de originais dos Correios e pensei em atear fogo e exorcizar aquele demônio (já não pareciam mais os deuses dizendo "insista, vai ser legal). Mas, E SE, porventura, aquilo fosse mesmo bom? Não poderia acabar, definitivamente com aquilo; seria um desperdício! Droga!
Eu peguei aquilo tudo e joguei em cima do guarda roupas, lugar, diariamente, inacessível, onde você coloca coisas que pretende nunca mais olhar, mas não tem coragem de destruir (tipo fotos e registros de ex-namorados). Também não apaguei do computador os meus arquivos, mas não li mais.
Passei no vestibular pra fazer História e planejei explorar minhas possibilidades estreitas de ascensão social de cidade pequena: fazer faculdade e trabalhar.

Quando pensei estar seguindo a minha vida, eis que o fantasma editorial volta a me assombrar. "eu conheço o dono de uma editora", disse uma conhecida bem-intencionada. Era uma mulher influente, jornalista doutoranda, trabalhava em uma muito conceituada instituição de ensino superior. "Ele é muito meu amigo. Posso te indicar e dar a ele o seu contato". Aquela, afinal, era a minha grande chance! Ganhei uma oportunidade bônus. Iria direto ao dono da editora, direto a Deus! Não poderia dar errado.

A moça jornalista não falhou e, então, entrei em contato com o dono da tal editora. Sujeito agradável, me foi simpático; disse que, naquele momento, estava enrolado, às voltas com a publicação de uma menina de 17 anos, mas que, na próxima semana, leria, sem falta, o meu original. Uma menina de 17 anos! E eu achando que não me dariam crédito por eu ter 21! Aquele era o momento, faltava pouco.

Esperei uma semana, duas, mandei e-mail, mensagem de texto, whatsapp, um rosário e uma ave-maria, e nada. O dono da editora não teve tempo pra ler o meu original. O que eu podia fazer, senão desistir de novo, ocupar minha cabeça com Filosofia, Sociologia e História? O que fazer com essas disciplinas que apuram nosso senso crítico e nos faz entender que o problema não está nas editoras brasileiras, mas no prefixo de "brasileiras"? O problema está no Brasil que não investe em cultura, em igualdade de oportunidades, no Brasil que está sempre dizendo te dar aquela força, mas dá o dinheiro, esperando o troco, que distribui universidades pelo interior, mas só oferece cursos que vão formar profissionais baratos, que vão servir...

Foi aí que eu compreendi. Me disse o Brasil: "Quer ser escritora? Vai ter que pagar". Eu pago - eu respondi - mas não a você.

Foi a primeira chance que me dei de pensar em procurar ajuda fora daqui.

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