sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Eu publiquei. E agora?

Dos breves anos em que passei estudando Licenciatura em Física, uma lei da natureza que ainda me persegue é o Princípio da Entropia, que diz que as coisas na Natureza tendem ao caos. Não há verdade maior; parece que tudo existente foi feito pra dar errado, de alguma forma. Amaldiçoados são aqueles que, como eu, nasceram para contrariar a natureza com sua mania de perfeição. Um sofrimento.

Ah, os perfeccionistas! Como viver em um mundo onde a gema do ovo não parte quando você quer fazer ovos mexidos, mas desmancha quando você quer fazer omelete? Difícil.

Outra coisa que aprendi com a publicação é um novo princípio que vou chamar de Princípio da Primeira Vez: Na natureza, nada do que é feito pela primeira vez fica bom o suficiente.

Talvez seja um modo de nos ensinar a humildade e a perseverança, ou outra sacanagem dos deuses pra pilhar gente como eu. Enfim, com o meu livro não seria diferente.

Após acertar todos os detalhes da publicação, no fim do ano, minha editora me diz que a Editora não possui revisor ortográfico, sendo o autor, responsável por sua própria revisão. No fim do ano, no brasil, não se encontra ninguém disponível pra revisar um texto e no começo do ano também não. No fim do ano é um pega pra capar, os professores de português estão fechando diários de classe, participando de conselhos, aí vêm as festas de fim de ano, as ruas enchem, as pessoas ficam estressadas e o ano acaba. Em Janeiro todo mundo viaja e os professores tiram férias. Fevereiro inteiro tem um nome: carnaval. Ou seja, não quis atrasar ainda mais a publicação e fiz eu mesma a revisão.

O problema é que dezembro também é uma amostra do inferno pra mim e, mediante provas na faculdade e trabalho em dobro, nas horas que sobravam para eu revisar o texto, estava extremamente cansada. E, de tanto ler, já conhecendo o texto, o resultado foi: pequenos erros de digitação que passaram despercebidos. Quase desprezíveis imperfeições que, de acordo com o Princípio da Primeira Vez, impediram a primeira edição do meu primeiro romance, de ficar ideal. Natureza.

E, bem, a natureza humana também é imperfeita, não é? Eu erro e as pessoas ao meu redor erram, dando a crítica negativa antes da positiva. Mas já dizia a Taylor Swift: "Haters gonna hate".

Um vez publicado, o seu livro vai chegar às mãos de outras pessoas com características que você pode odiar, mas não dá pra voltar atrás. O que está feito, está feito. Tem que dar a cara a tapa, assumir suas imperfeições e lidar com elas. O crescimento vem daí.

Após contar toda a história antes da publicação, não poderíamos falar de possibilidades, mas, se justifica as imperfeições do livro recém-publicado, eu diria:
SE eu não tivesse, diariamente, que escolher entre trabalhar, estudar ou dormir, talvez eu tivesse mais tempo pra escrever e revisar meu texto. SE editoras que possuem revisores ortográficos tivessem me dado uma primeira oportunidade, isso não teria acontecido.

Mas eu cheguei lá, eu publiquei. Agora minhas palavras podem alcançar além dos limites da minha cidade pequena, do meu estado e, até mesmo, do meu país. Da minha insignificância. Agora eu posso me tornar alguém.

Publicar era apenas um ato de coragem

em um daqueles dias de desespero, quando as editoras me deram a graça do desprezo, e já haviam ultrapassado todos os prazos estabelecidos por elas mesmas, me veio a ideia de procurar uma editora em Portugal. A mesma língua, menos dificuldades. Então, encontrei o site da minha editora, que se autoafirmava a maior editora de Portugal, com maior número de publicações.
Surpresa mesmo foi quando, ao clicar no link de "envio de originais", o prazo que a editora dava para uma resposta era de, no máximo, 10 dias. 10 dias! E o melhor, não exigia uma cópia impressa via transportadora (sdds Fedex). Não pensei duas vezes. Enviei meu original e aguardei.
Como já olhava meu e-mail todo santo e dedicado dia, de todos eles, o dia mais feliz da minha vida foi aquele, quando recebi a resposta da editora, dizendo: Queremos publicar o seu livro.

Minhas bochechas coraram, meu coração acelerou e tudo mais que havia sobre a publicação pareceu irrelevante. Eu me comprometeria a comprar uma quantidade de livros e a editora o publicaria no Brasil e Portugal. Eu pagaria! O que fosse! Uma editora me queria, me daria um espaço, uma oportunidade. E aquilo não tinha preço! Foi quando contei a todos que havia escrito um livro. É orgulho mesmo, mas não quis contar até saber que aquelas palavras poderiam mesmo ser um livro; e, pra isso, eu precisaria do aval de alguma editora.

À época, a editora não possuía filial no Brasil e isso tornava as coisas mais arriscadas. Procurei pela ajuda de amigos portugueses e pessoas que já haviam publicado com a editora, para saber se a mesma era confiável. A resposta de um amigo foi: procurei saber, e disseram que não é muito conceituada, pois publicam quase tudo o que mandam. Mas existem, têm uma livraria em Lisboa.

"Publicam quase tudo o que mandam", aquilo feriu um pouco o meu orgulho. Mas quem eu era para poder escolher? Ninguém! Eu não era ninguém, por isto precisaria de uma editora que me desse um primeiro espaço; para me tornar alguém.
Como teria que pagar pela publicação (e mandar o dinheiro pra fora do país), hesitei e insisti na autopublicação.

Alguns meses depois, entrei em contato com a editora, novamente; e, para minha felicidade, uma moça brasileira me atendeu e me informou que a editora estava por abrir um escritório em São Paulo. Mandei meu original uma outra vez, e ela respondeu com uma nova proposta, mais razoável, e complementou com um comentário sobre o livro: onde posso encontrar um Heitor desses?

Com aquele comentário, eu pude acreditar que havia dado vida a meus personagens, que eles haviam gerado empatia em alguém. Naquele dia, eu me tornei escritora. Publicar era apenas um ato de coragem.

Ah, a autopublicação!

Para não dizer que eu não tentei a autopublicação, vamos lá...

Certo dia eu tive uma ideia genial: se eu, simplesmente, autopublicar, vou poder vender para pessoas próximas, mas como vou colocar os livros em alguma livraria? A NÃO SER QUE...

Sim, parecia A IDEIA.

Eu abri um Micro Empreendedor Individual (ou MEI), uma dessas formas de legalização de atividades que o Governo apresentou com uma mão na roda para peixes pequenos. Com seu MEI, você tira seu CNPJ e legaliza a atividade que queira desempenhar e esteja na lista de atividades disponíveis para MEI; e ainda fica isento da maioria dos impostos. Bagatela.

Eu pensei: legalizando a atividade de "edição de livros", vou abrir minha própria editora. Vou revisar meu próprio livro, diagramar, tirar meu ISBN, contratar uma gráfica e, com meu CNPJ, posso negociar com as livrarias. Perfeito. Genial.

Maaaas, outra das barreiras que você encontra numa cidade pequena é a oferta de serviços. Mandei e-mail para algumas gráficas, pedindo um orçamento, não obtive resposta de algumas. Liguei para outra, a maior da cidade, e não poderia ter sido mais desagradável.

- Então eu preciso que você imprima uns 500 livros.
- Mas 500 livros é muita coisa. Pensa bem, quantas pessoas em Friburgo vão ler o livro?
- Mas eu pretendo abrir minha própria editora e oferecer para pessoas de outras cidades. E vender na internet.
- Tudo bem, a senhora que sabe. Quantas páginas tem o livro?
- Em torno de 170.
- Vai ficar caro. 170 páginas é uma quantidade significativa. Se eu fosse a senhora, pra não ficar tão caro, faria 300.

Sabe aquele momento em que você não acredita no que está acontecendo e não pode nem raciocinar e não sabe o que dizer? Quando eu desliguei o telefone, apenas, que eu fui refletir sobre aquilo. Já que não houve como dizer no momento, aqui vai minha resposta para o homem da gráfica:

Meu caro, você não conhece e não leu o meu livro; então, como acha que tem o direito de estabelecer o que me é possível? Como acha que tem o direito de dizer o quanto eu posso pagar ou que dificuldades eu vou ter em vender meus livros? Eu liguei para contratar um serviço e não sua opinião. E você foi péssimo em ambos. Eu te peço pra fazer 500 livros e você me oferece 300? Além de insolente, é um péssimo comerciante; por isso não sai da mediocridade de ser "a maior gráfica de Friburgo". Grande m$#%@!

Obrigada. Estou aliviada.

Procurei por outra gráfica, recebi meu orçamento e pretendia pegar um empréstimo para pagar pela publicação. Valeria a pena. No entanto, outra pegadinha do Governo se mostrou o tal MEI.

Eu perguntei à minha consultora:
- Então eu posso vender os livros na internet, né?
- Bem, com o MEI você só pode emitir nota fiscal dentro do seu estado, portanto, só vai poder vender dentro do Rio.

Acabou. Você tenta legalizar uma coisa e recebe um ticket limitado para negociar apenas no seu próprio estado? É por isso que um monte de gente vive na ilegalidade. Você tem, disponível, uma rede de possibilidades, que é a internet, sem fronteiras, e vem o seu governo e te impõe limites dentro do seu próprio estado. Brincadeira.

Resumindo, o dinheiro que eu gastaria com a autopublicação, para vender apenas no meu estado, eu poderia pagar à única editora que me fez uma proposta: a minha editora, de Portugal. No próximo post, conto a história de como consegui a editora e como consegui, finalmente, publicar.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

É preciso ter humildade

Como fui injusta! Culpei nosso país pelos meus problemas e estava ele, ali, me estendendo as mãos!

Era o último dia de inscrição, quando cliquei no link do Ministério da Cultura, que oferecia bolsas de Produção Literária.

Você deveria criar uma conta numa plataforma do governo, se cadastrar (mais uma vez, o "quem é você mesmo?" antecedia qualquer requisito para o envio), explicar sobre o que se tratava o seu, então tratado como, projeto-livro e que relevâncias ele tinha a contribuir com a cultura brasileira. Parecia do destino. O último dia de inscrição era meu, para mandar um projeto que tratava da História do Brasil, da escravidão, da economia de café e as sociedades patriarcais do século XIX. Bastava uma linha para explicar a relevância do meu projeto-livro para a cultura brasileira, mas eu me estendi; desenvolvi cada tópico para parecer clara, mas de forma concisa. Anexei meu original ao Sistema e aguardei. Meu país estava me dando a oportunidade de pagar pela minha publicação, era meu último recurso.

O tempo passava, as editoras ainda não haviam se manifestado e, juntamente à minha saga de checar minha caixa de e-mail todos os dias, havia um sistema pra eu acessar à espera de resposta. Demorou, mas saiu.

Pela n-ésima vez, desde então, eu fui reprovada. Mas, desta vez, estava muito bem explicado o quesito no qual eu falhei: não soube explicar, de acordo com o Sistema, sobre o que se tratava meu próprio livro.

É natural que eu fique procurando justificativas para fracassar. Teorias de conspiração, a culpa é do Governo; ou eu poderia, simplesmente, assumir minha culpa e admitir que, talvez, eu não seja tão boa quanto eu pensava. É preciso ter humildade.
O problema é que no nosso país, a gente não pode confiar no próprio fracasso, pois tem muita coisa envolvida nele. Enquanto eu dependia da misericórdia dos outros para realizar meus sonhos, era obrigada a ouvir, diariamente, aquele firme discurso meritocrático de que a gente chega aonde quiser com competência, determinação e perseverança. De que as coisas dependem apenas disso. Neste tempo de mais de uma ano da minha vida, que dediquei à publicação do meu livro, após esgotar todas as possibilidades que eu tinha de fazê-lo, deixei de aceitar ouvir esse discurso, que é uma mentira, no mínimo, cruel. Fico pensando se as coisas teriam sido diferentes se eu tivesse dinheiro, ou fosse filha de pessoas influentes, ou se, como nos concursos públicos brasileiros, aquela vaga para Bolsas de Fomento à Literatura já não tinha dono. De qualquer forma, meras especulações não me ajudaram a publicar meu livro.

É certo que a gente tem que ter humildade, mas hoje eu tenho um pouco mais de autoconfiança. Ter publicado um livro não faz de mim uma escritora, mas é possível que eu não seja tão ruim quanto esse ramo me fez sentir esse tempo todo.

Eu pago, mas não a você.

Enquanto as três primeiras editoras nem mesmo me davam a honra da recusa, eu vivia entre o "não quero mais publicar essa m*#$@" e "ainda não fui recusada, ainda há esperança". Essa é a pior das partes: você não é assumidamente ruim pra desistir, pois ninguém se comprometeu em dizer isso, mas alimentar esse sonho acaba te matando de fome.
Então eu desisti. Mais ou menos. Peguei meu original impresso, juntamente ao cadastro da BN e aos comprovantes de envio de originais dos Correios e pensei em atear fogo e exorcizar aquele demônio (já não pareciam mais os deuses dizendo "insista, vai ser legal). Mas, E SE, porventura, aquilo fosse mesmo bom? Não poderia acabar, definitivamente com aquilo; seria um desperdício! Droga!
Eu peguei aquilo tudo e joguei em cima do guarda roupas, lugar, diariamente, inacessível, onde você coloca coisas que pretende nunca mais olhar, mas não tem coragem de destruir (tipo fotos e registros de ex-namorados). Também não apaguei do computador os meus arquivos, mas não li mais.
Passei no vestibular pra fazer História e planejei explorar minhas possibilidades estreitas de ascensão social de cidade pequena: fazer faculdade e trabalhar.

Quando pensei estar seguindo a minha vida, eis que o fantasma editorial volta a me assombrar. "eu conheço o dono de uma editora", disse uma conhecida bem-intencionada. Era uma mulher influente, jornalista doutoranda, trabalhava em uma muito conceituada instituição de ensino superior. "Ele é muito meu amigo. Posso te indicar e dar a ele o seu contato". Aquela, afinal, era a minha grande chance! Ganhei uma oportunidade bônus. Iria direto ao dono da editora, direto a Deus! Não poderia dar errado.

A moça jornalista não falhou e, então, entrei em contato com o dono da tal editora. Sujeito agradável, me foi simpático; disse que, naquele momento, estava enrolado, às voltas com a publicação de uma menina de 17 anos, mas que, na próxima semana, leria, sem falta, o meu original. Uma menina de 17 anos! E eu achando que não me dariam crédito por eu ter 21! Aquele era o momento, faltava pouco.

Esperei uma semana, duas, mandei e-mail, mensagem de texto, whatsapp, um rosário e uma ave-maria, e nada. O dono da editora não teve tempo pra ler o meu original. O que eu podia fazer, senão desistir de novo, ocupar minha cabeça com Filosofia, Sociologia e História? O que fazer com essas disciplinas que apuram nosso senso crítico e nos faz entender que o problema não está nas editoras brasileiras, mas no prefixo de "brasileiras"? O problema está no Brasil que não investe em cultura, em igualdade de oportunidades, no Brasil que está sempre dizendo te dar aquela força, mas dá o dinheiro, esperando o troco, que distribui universidades pelo interior, mas só oferece cursos que vão formar profissionais baratos, que vão servir...

Foi aí que eu compreendi. Me disse o Brasil: "Quer ser escritora? Vai ter que pagar". Eu pago - eu respondi - mas não a você.

Foi a primeira chance que me dei de pensar em procurar ajuda fora daqui.

Minha terceira e, última, experiência com editoras brasileiras

Quando, finalmente, meu certificado de cadastro na BN chegou, pude recorrer a uma segunda editora. Uma que trabalhava de uma forma que inspirava ainda mais confiança "vamos responder em um mês", eles disseram. Era outra editora conceituada, em crescimento no Brasil; democrática, publicava em muitos gêneros. Destas que apostam no público jovem que fica famoso nas redes sociais (uma pena eu gostar de escrever romances). Funcionava da seguinte forma: Você mandava 10 páginas do seu original, uma sinopse explicando sobre o que se tratava, seu crachá de serviços gerais, outra vez, e um contrato assinado, no qual você se comprometia a aceitar todos os termos, sob a pena de seu original não ser lido, caso faltasse alguma coisa; e a outra parte se comprometia a lê-lo em até um mês e te mandar um e-mail, dizendo se haviam se interessado, para, então, pedir o resto do seu original para análise, sob a pena de... bom, de... de nada. Eles vão ler quando bem entenderem e não sofrerão sanções (não somos obrigados). Por coincidência, na última sexta-feira, já com meus livros em mãos, UM ANO após mandar o original para análise, esta mesma editora me enviou o seguinte:

"Prezada Senhora,



Concluída a avaliação do original em referência, informamos que sua publicação não foi indicada, ainda que apresente evidentes qualidades."


Hum... ainda que apresente evidentes qualidades... é um discurso pronto do tipo "copia e cola"? Eles dizem isso pra todo mundo? Quais os parâmetros para uma obra ser publicável, de acordo com uma grande editora? Se não basta apresentar evidentes qualidades, quais os outros requisitos? Bem, eles nunca dizem o real motivo pela recusa, mas são educados te recusando. Vida que segue.

Estava agora mesmo pensando sobre as intenções desse blog e o que o resto do mundo pensaria se o lesse hoje. Provavelmente, o que pensei em todas aquelas recusas: Não deve ser bom o suficiente. Por que insistir nisto, então?
Eu gosto de escrever. E esta, talvez, seja a melhor coisa que posso dar à vida; talvez, a única coisa que eu saiba fazer. Mas, repito, quando submeti meu original ao jugo do Olimpo Editoral, não estava pedindo para ser aprovada como escritora, mas pedindo que aprovassem a minha história, que era relevante. E ainda é. As pessoas crescem como escritores, como profissionais, como linguistas e gramáticos, mas as histórias não mudam; uma história contada à moda Quino tem a mesma beleza que a mesma história contada por Tolstói (conservadores dirão que não). A Literatura não é uma ditadura de forma, é dinâmica, e sua essência encontra-se no conto e não no contador. Então, qual é o problema com os originais, se apresentam evidentes qualidades? A forma? O técnico? Se me dissessem, eu iria ali na esquina, procurar por uma escola onde se ensina a ser contador de histórias, escritor, romancista. Espera... não existe! Pelo menos, não, uma pela qual eu possa pagar.

Isso resume o comportamento das grandes editoras brasileiras: nos exigem parâmetros que só eles conhecem, acham que te fazem um favor ao te analisar, ao te julgar, não respeitam os prazos e, ainda, te reprovam sem mais explicações.

Mas, também, pra que te dar um feedback pra você crescer como escritor, e fazer um trabalho legal, com tanto escritor americano pra publicar no nosso país?

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Minhas duas primeiras experiências com editoras

Eu, que jamais pude ser considerada uma garota de sorte (não que eu seja azarada, mas, devido às condições, nada tem sido fácil pra mim), pensei estar virando a mesa quando a maior e mais conceituada editora brasileira abriu seu curto prazo para envio de originais. Eu havia acabado de concluir Café sobre tela e meu amigo Paulo, também escritor, me disse: "Envia!"
Concluir um livro não significa que ele esteja pronto, mas ele insistiu: "O livro é bom! E se as editoras gostarem, elas mesmas farão as alterações necessárias para que fique perfeito!"

Eu acreditei.

Como ainda era garota iniciante e estava a espera do meu certificado do Escritório de Direitos Autorais, só poderia recorrer às editoras cujo prazo estivesse aberto e que não me obrigassem a enviar a cópia do cadastro da BN. Felizmente, mais uma vez, a sorte parecia me ter sorrido e a tal editora não fazia questão do cadastro.
A editora dava um prazo máximo de 6 meses para analisar o meu original e classificá-lo em "publicável ou não". Mas garantia um retorno, ao menos, para dizer o porquê de meu original não ser publicável. 6 meses não me matariam e, do jeito que estava com sorte, talvez lessem o original o quanto antes e, dependendo da resposta, o pior que poderia acontecer seria me darem uma dica do que melhorar para eu tentar outras editoras. Naquele momento, eu precisava, apenas, de uma opinião.

Fiz um sachê com grãos torrados de café e anexei ao original impresso, para que, ao abrir o envelope, o cheiro do grão antecedesse o título, criando uma sensação de criatividade, cuidado e dedicação. Para garantir que meu original chegasse o quanto antes às mãos dos editores, mandei logo no início do prazo e paguei pelo serviço 10 de entrega, chegou, com eficiência, antes das 10 horas do dia seguinte. Desde então, começaria uma saga de olhar a minha caixa de entrada, todos os dias (like a freak), à espera de uma resposta.

Durante o tempo aceitável de ausência de resposta, enviei meu original a outra grande editora brasileira. Destas que nem se dão o trabalho de recolher originais impressos: você cadastra seu endereço de e-mail, detalha sobre o que se trata o seu livro e, então eles decidem se querem lê-lo ou não.Esta editora jamais me contatou, sequer, para informar se havia recebido o meu cadastro.

A primeira das editoras estourou o prazo máximo de 6 meses (que já não era pouco) e, após 1 ano, quando eu já estava por publicar com outra, me enviou um e-mail do tipo: "Seu livro é legalzinho, mas não vamos nos comprometer."

Nesse meio-tempo, desenvolvi uma gastrite, tive minha autoestima massacrada e prestei o vestibular para cursar História. Sem querer querendo.

O primeiro obstáculo: quem é você mesmo?

Vá até os sites das principais editoras brasileiras > clique em "novos autores" > veja se o prazo para envio de originais encontra-se aberto --> se não, volte uma outra hora.
--> se sim, prossiga.
> verifique os outros requisitos para a análise do original.

Primeiro de tudo: seu original deve estar cadastrado no Escritório de Direitos Autorais da BN.

Droga! Eu não moro no Rio!

A boa notícia é que você não precisa se deslocar até a cidade do Rio de Janeiro para entregar seu formulário preenchido, junto ao original. =D A má notícia é que você vai precisar do serviço dos Correios e rezar para que ele funcione adequadamente e que não apareçam feriados regionais que impeçam o trâmite. =( E você vai precisar pagar por isso; é só a primeira coisa pela qual você terá que pagar nesta jornada. E não se engane. Pagar a mais pelo serviço que entrega antes das 10 da manhã do dia seguinte não adianta; pode ser que demore muito mais tempo para o seu envelope sagrado ser deslocado da PORTARIA do prédio até o andar do escritório. Sério. E, ainda, mais para seu certificado ser emitido e chegar até você, para que você possa, então, tirar uma cópia e anexar ao seu original.
Portanto,
--> se você ainda não fez isto, desista de certas editoras, que abrem o prazo pra envio por curtos 2 meses ao ano.
Mas, se você não é um mero iniciante garoto e já tem seu cadastro em mãos,
--> leia o próximo item: > anexe, ao original, um pequeno currículo com seu nome, endereço, e-mail e uma breve biografia, onde você detalha a sua formação. Em outras palavras: quem é você mesmo?
Bom, você não é um ator famoso de uma grande emissora de tv, se fosse, não estaria recorrendo ao envio de originais; bastaria que seu assistente apresentasse o seu nome e, tão logo, uma autobiografia da vida que você consideraria interessante seria publicada. Mas você não é conhecido. Você, sequer, tem um nome. Portanto, vai precisar anexar uma reafirmação de que você é uma Maria Ninguém, do interior, não tem um mestrado em Harvard, nem um parentesco no estabelecimento. =x E, por isso, por experiência própria, posso dizer que você, com esse seu crachá de serviços gerais, vai ter que entrar pela porta dos fundos e rezar para ser atendido.

Maldito Romance

Naquela história de "o ovo ou a galinha", para publicar um livro você precisa, basicamente, ser conhecido; mas como ficar conhecido como escritor sem publicar um livro?
Você, provavelmente, diria: "Ora, a internet tá aí, diariamente, dando oportunidade pra gente nova. Por que você não escreve um blog?"
Certo. Um blog é uma boa ideia; mas o que uma pessoa desconhecida, com uma vida pacata, em uma cidade pequena, tem para dividir com os outros?
A menos que você queira construir uma identidade atrativa, através de autoafirmação, para ser considerado interessante, um blog pessoal não é uma boa ideia.
Eu vi, recentemente, jovens brasileiros lançar-se no mercado editorial a partir da divulgação de páginas em redes sociais; mas, a menos que escreva versos em poesia, ou saiba desenhar e construa um portfólio rico em gravuras e frases de efeito, você não é interessante ao mercado editorial.
Eis que os deuses me presentearam com o extra-bônus da perseverança literária: o romance.
Eu escrevo romances! E isso responde, não só à pergunta que você faria, mas, também, às outras que já cansei de ouvir: "Por que você não faz jornalismo, se você gosta de escrever? Por que você não faz Letras? Por que você não escreve contos e envia para o jornal local?
Quisera eu escrever contos. Me envolver em pequenas histórias, começar e terminar, semanalmente, uma vida de personagens; mas eu sou apegada! Eu gosto de viver com eles uma vida significativamente longa.

Pior do que um intendente a escritor, só um intendente a romancista; pois, até para percorrer o caminho inverso (ficar conhecido para conseguir publicar), o infeliz tem dificuldade. Não dá pra compartilhar um romance por semana nas redes sociais. Somos a casta mais puritana da Literatura.

P.s.: Só nos resta, então, recorrer ao envio de originais às editoras e suplicar por sua misericórdia e bondade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Publicar é um ato de coragem

"Você tem muita coragem para tentar publicar as coisas que escreve", disse uma amiga. Hoje, refletindo sobre coragem e sobre publicar, posso afirmar, categoricamente: é necessário coragem para publicar.
Naquele dia, eu havia descoberto um projeto de bolsas para criação literária do Ministério da Cultura e, sabendo que essa tal amiga também gostava de escrever, sugeri que ela também se inscrevesse. Então, ela respondeu a citação acima e ainda complementou: "eu não tenho coragem de mostrar as coisas que escrevo a ninguém". Naquele momento, sonhar publicar meu livro não parecia um ato de coragem; ainda mais para uma típica aspirante a escritora, tímida, que tem medo de iniciar conversas com os outros. Publicar meu livro tampouco era um ato de vaidade, mas de necessidade. Aquela mesma necessidade inexplicável, que os pais sentem de mostrar fotos de seus filhos saudáveis e apontar seus nomes. Uma necessidade que beira o orgulho, a necessidade de aprovação, mas supera-se pelo amor da criação. Eu sentia que havia feito um bom trabalho e desejava dividir com os outros. Não por mim, mas minha criação merecia ser dividida, apontada, ter suas qualidades exaltadas, como um bom filho.

Minha amiga tinha razão. Publicar é um ato de coragem. Tornar algo público implica submeter-se não somente à autocrítica, mas, também, à crítica externa; expor o que há de mais íntimo e entregar ao gosto do outro. E o pior de tudo é que, uma vez impresso, não mais existe um botão com a opção "editar". E você pode se odiar por isso.

Mas não vamos colocar o epílogo na frente do prólogo; antes da história virar papel, ainda tem uma saga de heróis míticos a tratar, cujos deuses presentearam com o poder da perseverança. Aquela mensagem divina de "não desista, você precisa fazer isso", que te irrita quando você acha que já esgotou todas as suas possibilidades e prosseguir só vai te fazer sofrer. Mas os deuses sabem o que fazem e não fosse por sua perseverança, você sequer teria sonhado, um dia, em ser um escritor.

Sonhar em ser escritor. Viver de escrever é considerado sonho; e não plano. Algumas pessoas planejam ir para a faculdade, fazer um mochilão na Austrália, casar-se e ter filhos; mas escrever parece tão sonho quanto querer ver um festival internacional de música tradicional tibetana na Cidade do Rock: não é impossível, mas, para isso, você depende da mobilização de vários outros interessados no gênero, patrocínio, apoio, estrutura e, então, se você mora no interior do estado, dinheiro pra pagar sua passagem e a entrada cara para o evento. Ou seja, tão difícil, que os fãs de música tradicional tibetana continuam a ouvi-la em seus fones de ouvido e fingir que não se importam.

Em uma época em que sonhar já é um ato de coragem e em um país em que fazer planos é esbarrar na Senhora Burocracia, sonhar e fazer planos confundem-se enquanto você dorme, coloca a mão na massa, ou pede por ajuda para alcançar seu objetivo.

Nas horas de dificuldade, eu preferia ter sonhado me formar em Engenharia.

Nos próximos posts, pretendo detalhar as dificuldades, burocracias e perseveranças que transformam em bipolar qualquer jovem brasileiro a quem prometem realizar seu grande sonho. Só que não. Sério, vamos te ajudar. Brincadeira.

Para acompanhar a trama, leiam as postagens na sequência cronológica e sejam bipolares junto a mim!

Com amor,

Ania.

Apresentação

Meu nome é Ania Kítylla Gevezier e eu acabo de publicar um livro.

Sou autora do romance Café sobre tela, recém-publicado.

E, bem, eu... publiquei.

Falando em publicação, quando você publica um livro e o tem em mãos, as pessoas que observam aquele resultado imaginam que tenha sido fácil chegar até ele; isso cria uma sensação do tipo "quem diria, te conheci ontem e hoje você é uma escritora."

No entanto, o período entre a satisfação celestial de "terminei de escrever um livro" e a materialização "olha aí, fui eu que escrevi. Pega!" pode ser um processo doloroso, desanimador, com mais altos e baixos do que as variações emocionais de personagens de romances água-com-açúcar. PODE SER, porque não é regra, mas é quase regra tratando-se de uma brasileira interiorista completamente desconhecida.

Sim, sou brasileira, com um nome russo e um sobrenome francês (consultar acervo da colonização do Rio de Janeiro e artigos sobre mães criativas e escolha de nomes). Nasci e moro em Nova Friburgo, uma cidade (des)conhecida nacionalmente por fazer calcinha (e outros artigos de lingerie). Não podemos desmerecer, a cidade também ficou nacionalmente conhecida como a cidade da tragédia, depois de 2011. Em suma, Ania K. Gevezier, antes da publicação, era também conhecida como Maria Ninguém de Friburgo - escolaridade: ensino médio (narro num outro post minha tortuosa jornada de graduação).

O que eu pretendo com este blog (finalmente arrumei o que escrever em um), não é me lamuriar sobre minha cidade ou o gosto peculiar para nomes da minha mãe (não hoje); mas narrar, com linguagem não-acadêmica (PHDeuses choram), histórias sobre a talvez interessante vida de uma garota comum e seus obstáculos até a, então, publicação de seu primeiro romance. Aquele que citei na segunda linha. Lá em cima.

- "Cadê a educação, Kítylla?"
- Já ia me esquecendo, mãe...

Sejam bem-vindos! Bienvenue! Добро пожаловать!



REFERÊNCIAS: LUDMYLLA, minha amiga - Colocar parênteses: um vício fundamental na linguagem informal, 2007-2015.
TRADUTOR, google.