domingo, 22 de março de 2015

Eu lancei. E aí?




O lançamento é a publicação artística do livro. É quando você o apresenta a seu grupo social.

Foi tudo lindo e eu cuidei de cada detalhe; dos marcadores de páginas às etiquetinhas com a data do lançamento, dentro dos sachês de grãos de café torrado. Só estando lá pra sentir o cheiro. Deu um monte de gente bonita, arrumada; um evento social. Qualquer um podia ver a felicidade estampada nas minhas bochechas dormentes de tanto sorrir. Foi assim, mas, e aí?

Havia gente me parabenizando, gente se emocionando por estar presenciando a realização de um grande sonho, gente me perguntando sobre um suposto segundo livro. Mas quando eu retirei minhas coisas da mesa e todas as pessoas foram embora, tive que continuar a guardar o meu verdadeiro sonho dentro das páginas do meu exemplar de Café sobre tela.

Eu voltei à minha rotina de trabalho - um que nada tem a ver comigo - e aos estudos que, embora eu goste, não me oferecem nenhuma perspectiva de mudança. Embora tenha lançado um livro, eu não sou uma escritora. Continuo a ser a-garota-do-caixa, garota-do-café, compra-um-lanche-pra-mim, acabou-o-pó-de-café, atendente-de-telefone, entre outros. Continuo procurando uma hora de sossego do meu dia pra escrever um novo livro, que já habita as páginas da minha mente, mas não consegue existir aqui do lado de fora.

Pior do que não ser, é ser em potencial.

É nisso que tenho pensado ultimamente.

"Essa menina é multifacetada, por isso muda de cabelo desse jeito!" - disse a psicóloga. Ser uma Maria Ninguém já é difícil, imagina ser uma Maria Ninguém com potencial pra fazer muitas coisas! Você acaba fazendo nada. Sendo nada, além de julgada. Você tem que provar pra todo mundo que tem potencial o tempo todo.

"Você não quer se adequar" - ele disse. Não. Não quero. Me lembro de uma produção baseada na vida da J.K. Rowling, onde mostrava sua incapacidade de trabalhar com atividades rotineiras.

"Mas você não é a J.K. Rowling" - eles dirão. Mas a J.K. Rowling já foi uma Mary No One com um sonho. Já foi tachada de preguiçosa, de acomodada, depressiva e disseram que ela sonhava demais. Certo, eu quero ser como a J.K. Rowling. Por que não?

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